Iniciou o seu caminho na poesia, com oito anos. É uma escrita com um forte teor emocional, intuitiva, cheia de sentimentos,… que são reveladores daquilo que vai dentro de si, no seu mais íntimo.
Talvez, por isso, me tenha chamado a atenção porque desabafar para o papel, é desesperador e dói tanto como falar com alguém. No final, alivia mas o processo, é um caminho com obstáculos, suspiros, irritação, etc. Mas falo por mim, não por Florbela Espanca.
Acho até que, as pessoas quando falam de poesia, não lembram muito da voz feminina, neste caso, dos versos femininos. Não existem só poetas…
Não teve uma vida fácil, muito dos seus versos, têm uma dimensão de solidão, de saudade ou mesmo sofrimento, profunda e é muito por aquilo que passou em vida. Mas não posso deixar de referir que, o amor, fazia parte das suas rimas e que muitos dizem que tem uma parte romancista.
Digo-vos que, é extraordinário, a sensação de sentir, cada emoção em cada quadra que lemos. Muitas vezes me perguntaram “Poesia? Porque lês poesia?”, como se fosse a coisa mais estranha do universo e muitas vezes respondi, “Porque lês um policial? Ou um romance? Ou uma banda desenhada? Ou outra coisa qualquer?” e as pessoas iam embora, por não saberem o que dizer. Li o livro, “Livro de Mágoas” e um dos poemas que me marcou, é intitulado de “Eu” que já partilhei convosco mas volto a fazê-lo…
"Eu
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...
Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida! ...
Sou aquela que passa e ninguém vê ...
Sou a que chamam triste sem o ser ...
Sou a que chora sem saber porquê ...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!"
A poesia, tem uma sonoridade tão única e atinje-nos quando menos esperamos. Dêem uma oportunidade à poesia e a esta poetisa, Florbela Espanca!
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